5 motivos que tornaram “Memórias Póstumas de Brás Cubas” um sucesso
Depois de ganhar popularidade no TikTok, a versão em inglês do livro se tornou o mais vendido na Amazon
“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, é um dos grandes clássicos da literatura brasileira. Recentemente, a versão em inglês da obra se tornou a mais vendida da categoria “Literatura Latino-Americana e Caribenha” na Amazon dos Estados Unidos. Isso aconteceu após um vídeo da escritora e leitora Courtney Henning Novak, em que avalia livros de vários países, viralizar no TikTok.
Com isso, o livro se tornou um best-seller, ultrapassando clássicos latino-americanos como “Amor nos Tempos do Cólera”, de Gabriel García Márquez, e a coletânea de ficções de Jorge Luis Borges. Além disso, a versão e-book de Brás Cubas figura em 11º na lista.
O ranking se refere às versões físicas dos livros comercializados pela Amazon para os clientes que moram nos EUA. Publicada pela editora Penguin Classics, a edição em inglês tem o nome de The Posthumous Memoirs of Brás Cubas, tradução feita por Flora Thomson-DeVeaux.
“A leitura deste romance é uma visita ao mais íntimo dos segredos da literatura brasileira, é uma viagem que transborda nossa autocrítica tantas vezes negligenciada pela preferência aos best-sellers estrangeiros”, ressalta o professor de Literatura do Colégio Marista Pio XII, Ramon Felipe Ronchi.
Sucesso centenário
Veiculado primeiramente como folhetim em uma revista, o que era comum na época, o livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” foi oficialmente publicado como romance em 1881, tornando-se a primeira obra do Realismo na literatura brasileira.
O narrador, descrito como “defunto-autor”, é Brás Cubas, que começa a contar a sua autobiografia após a sua morte. De família rica, espelha as hipocrisias das elites brasileiras do século 19, refletindo sobre questões como moral e preocupação com as aparências.
O professor ressalta que o livro é “uma prata da casa”, mesmo essa grande narrativa universal sendo recém-descoberta pelas redes sociais. “O anti-herói Brás Cubas desnuda um realismo mágico que encanta qualquer leitor minimamente interessado numa boa dose de aventura pelos estreitos canais da ironia e moral”, observa.
Características que explicam sucesso
Veja, a seguir, 5 motivos que tornaram “Memórias Póstumas de Brás Cubas” um enorme sucesso no Brasil e fora dele.
1. Atualidade
Na opinião da professora de Literatura Brasileira e Portuguesa do Colégio Marista Paranaense, Rosane Decolin, a obra permanece atual por questão de identidade. A exploração e questionamento de quem é Brás Cubas, o que ele fez ao longo da vida e como não obteve êxitos é algo muito atual e humano.
“O narrador mesmo descreve que ‘não teve filhos, mas não deixou o legado da miséria a ninguém’ e isso remete às lutas e conquistas que pessoas fazem ao longo de suas vidas”, comenta.
2. Narrativa em mosaico
A narrativa não linear cria uma espécie de mosaico, pois não segue uma linha cronológica. A história começa da morte do narrador e vai seguindo depois para os primeiros passos da infância e adolescência. Essa desconstrução narrativa cria uma trama extremamente interessante e diferente de tudo que já existiu, explica Gabriela Ceccon, professora de Língua Portuguesa e Redação do Colégio Marista Anjo da Guarda.
3. Realidade humana
Mesmo tendo sido lançada há cerca de 150 anos, Brás Cubas fala sobre a realidade humana, o que é inerente ao tempo. São abordados desde questões sentimentais, fatores como ódio, traição e medo, que permeiam a existência da humanidade.
4. Quebra da quarta parede
Na obra, Machado de Assis frequentemente rompe a quarta parede, dirigindo-se diretamente ao leitor. Este recurso cria uma conexão íntima e imediata entre o narrador e o leitor, quebrando as convenções tradicionais da narrativa e oferecendo uma experiência de leitura dinâmica e envolvente.
5. Crítica social e psicológica
A obra é uma incisiva crítica social e psicológica da sociedade brasileira do século 19. Machado de Assis utiliza a vida de Brás Cubas para satirizar a hipocrisia, a vaidade e a corrupção das classes dominantes.
Por Paula Melech