O ”felizes para sempre” é uma escolha diária
Passada a fase da paixão, nasce o amor maduro, aquele que aceita nossas imperfeições e valoriza a cumplicidade
Quem nunca desejou, em meio à sua jornada, dividi-la com alguém? Por que nos casamos? Já vou dar um spoiler aqui: talvez a paixão nos leve ao altar, mas é o amor que nos mantém unidos, após a festa. A paixão é um incêndio que não conhece limites, que pula muros, enfrenta o mundo e quebra regras, tudo em nome do seu desejo ardente. Mas esse lugar, conquistado a ferro e fogo, só se sustenta se a paixão amadurecer em amor, evoluindo da posse para o apreço, do querer ter para o querer estar junto.
A paixão nos seduz com a ilusão da perfeição, enquanto o amor nos enraíza na verdade imperfeita de quem somos e daqueles que escolhemos, em um “felizes para sempre” que é menos conto de fadas e mais escolha consciente e diária. Menos flutuar nas nuvens do desejo e mais encontrar direção no amor, que torna a jornada significativa.
A vida também é feita de calmaria
Afinal, a vida não é feita apenas de aventuras eletrizantes; há dias comuns, desafios constantes e trabalho árduo, exigindo mais amor do que paixão, mais atos concretos do que palavras poéticas. Atos simples como lavar a louça, levar o lixo para fora, colocar os filhos para dormir.
É um convite diário para deixar de lado o egocentrismo juvenil e abraçar uma maturidade que se lança numa competição de generosidades. Uma jornada que redefine nossa noção de tempo, apagando todas as pequenas mágoas do começo e desmontando temores futuros. É celebrar juntos os dias ensolarados e se aninhar nos invernos da alma, sem julgamentos ou conselhos, mas com um silêncio que ecoa em nossa dor, assegurando que não estamos sozinhos.
O amor ajuda a superar os desafios
Em meio à ostentação narcisista que nos rodeia, é sentir a mão do outro apertando a sua por baixo da mesa, num gesto de admiração e conexão, como quem diz: “Não precisamos de nada disso para ser felizes”. Amar fortalece, mas ser amado nos impulsiona a superar desafios. Com o passar dos anos, nossos corpos carregam as marcas da vida, os cabelos branqueiam, o vigor diminui, mas o amor não esmorece.
Como um bom vinho, a alma envelhece bem e canta: “Talvez eu seja, simplesmente, como um sapato velho. Mas ainda sirvo, se você quiser. Basta você me calçar. Que eu aqueço o frio dos seus pés”. Como se disséssemos: “Fica comigo, meu amor, o melhor ainda está por vir”.
Por Rossandro Klinjey – revista Vida Simples
Psicólogo, escritor, palestrante, cofundador da Educa. Nesta Egotrip, as turbulências são passageiras.