Sem previsão de retorno, Forfun encerra turnê no Rio de Janeiro neste sábado
Mais uma vez, chegou a hora da despedida. Neste sábado (7), na Apoteose, zona central do Rio de Janeiro, a banda carioca Forfun encerra oficialmente a turnê Nós, que marcou o reencontro do grupo após nove anos longe dos palcos e passou por 12 cidades ao redor do país. Com pelo menos 40 músicas, a apresentação também será uma celebração do movimento que ficou conhecido como “Riocore”, nome pelo qual ficaram conhecidas as bandas de hardcore e emo vindas do Rio no começo dos anos 2000. A abertura contará com Diogo Defante, Dibob, Scracho e Darvin – estes últimos anunciaram, inclusive, que o show será o último da história da banda.
Em entrevista exclusiva à Jovem Pan News, o baterista do Forfun, Nicolas Christ, falou sobre a expectativa para o evento na capital fluminense: “Esse tempero a mais dessa reunião de bandas do Rio de Janeiro, com as quais a gente tem uma história muito bonita… são grandes irmãos da gente, então isso traz uma carga de emoção. Essa união das bandas – e do Diogo Defante, que não fez parte dessa história, mas que que temos muito carinho – nós temos certeza que será um dia muito especial”, disse.
Para o tecladista, guitarrista e vocalista Vitor Isensee, o show de encerramento traz um aspecto simbólico. “É uma maneira de exaltar essa caminhada, essa construção. Quem diria que uma brincadeira em uma legenda de Fotolog, de 20 anos atrás, iria virar um termo utilizado assim, como Riocore? É uma forma de celebrar essa cena, trazer toda a galera junto. Tenho certeza que o público quer muito ver isso.” Junto com o guitarrista e vocalista Danilo Cutrim e o baixista e vocalista Rodrigo Costa, os quatro membros do Forfun evitam falar em planos para o futuro e, pelo menos por enquanto, dizem não ter um novo retorno em vista. Mas através das redes sociais, a banda anunciou uma notícia que trouxe certo alívio aos fãs: o encerramento da turnê será gravado em formato de DVD e deve ser lançado nas plataformas digitais a partir de 2025.
Se o sábado promete ser de fortes emoções para os fãs, o mesmo pode ser dito para os músicos. “Tem um saudosismo antecipado. Às vezes, no meio do show, passa pela minha cabeça que está acabando, que não sei quando vou fazer uma virada específica novamente ou ouvir o público cantando junto, então tento aproveitar ao máximo”, diz Nicolas. “Quando teve a primeira pausa da turnê, eu fiquei mal, me deu uma sensação de que faltava algo. Agora, a ficha está caindo. Mas é bom que acabe – eu sou muito adepto da ideia dos ciclos. O Forfun tem uma história muito bonita e, por enquanto, é isso”, revela Vitor.
Originalmente, o show derradeiro da turnê “Nós” estava programado para o estádio Nilton Santos, no último dia 23 de novembro. Após pressão do Botafogo, que disputaria uma partida pelo Campeonato Brasileiro na mesma data, a apresentação precisou ser alterada para a Apoteose, onde mais de 20 mil pessoas são aguardadas a partir das 14 horas neste fim de semana. Tendo passado por 12 cidades diferentes, o show deste sábado será o 17º da tour. A viagem pelo Brasil incluiu três noites lotadas na Marina da Glória, uma no Rock in Rio e uma apresentação com ingressos esgotados no Allianz Parque, em São Paulo, no maior show solo da história da banda. Em todos as paradas, a plateia era formada por fãs de longa data e também aqueles que tiveram a primeira oportunidade de acompanhar o quarteto ao vivo.
A história do Forfun começa no início dos anos 2000. Em 2003, o primeiro disco demo, Das Pistas de Skate às Pistas de Dança, trazia os primeiros hits ao som de um hardcore com fortes influências americanas. Em 2005, foi a vez do primeiro álbum “oficial”: Teoria Dinâmica Gastativa, com algumas das músicas que mais marcaram a primeira década do século em Hidropônica e Good Trip. Já em 2008, o Forfun seguiu como banda independente e partiu em busca de um som mais experimental. Trazendo influências do reggae, do rap e da música eletrônica – representadas em faixas como Sol ou Chuva e Cigarras – nasceu o Polisenso. Já em 2010, foi a vez do Alegria Compartilhada. O trabalho trouxe à tona toda a maturidade da banda, explorando ritmos e timbres mais brasileiros e com uma originalidade característica.
Nesta época, o Forfun se consolidava com um público fiel e transitava entre o underground e o mainstream. Com apoio dos fãs, em uma campanha de financiamento coletivo que bateu recordes na ocasião, a banda gravou o DVD Ao Vivo no Circo Voador em 2012, lançado no ano seguinte junto do EP Solto. Já o último disco, Nu, veio em 2014, dando sinais de fragmentação entre o grupo. Todas as fases foram contempladas no setlist da turnê. Para o show da Apoteose, serão 40 músicas, sendo 10 em formato acústico. De forma antecipada, a banda revelou as participações especiais de Dedeco (Dibob) em Costa Verde, Diego Miranda (Scracho) em Terra do Nunca, Thiago Niemeyer (Darvin) em Minha Formatura e do rapper Xamã em Gruvi Quântico.
Mesmo com a apresentação prevista para durar por mais de 2h30, muitos fãs continuaram questionando algumas ausências. Acima de tudo, as manifestações demonstram um sinal de que a obra segue ecoando entre o público 20 anos depois. “Sinto uma alegria muito grande”, conta Nicolas. “A arte é uma reflexão sobre um tempo, mas é muito interessante como essas reflexões vão se renovando e criando outros contextos. O mundo de hoje tem muitas semelhanças com 10, 15 anos atrás – mas muita coisa mudou também. Tem temas que tratávamos lá atrás que ainda são importantes. Por exemplo, ‘nem dinheiro, nem prazeres vão trazer o que você tá procurando’.”
Já Isensee relata um sentimento ambíguo. “Sinto essa alegria [das músicas permanecerem atuais], mas ao mesmo tempo dá um certo aperto no coração, porque alguns assuntos nós nem deveríamos estar falando mais. O ideal era só constatar novamente que ‘felicidade é um fim de tarde olhando o mar’ e não tendo que chamar atenção para o fato de que ‘o aquecimento global já não é ficção’. Enquanto houver necessidade, possibilidade e propósito, vamos estar aí.”
Agora, resta a ansiedade antes do show que faz parte da preparação habitual dos músico. “É uma demanda que vale a pena, a gente não sabe quando vai acontecer outra turnê. Já que tem gente querendo ver e estamos a fim de tocar, vamos lá! Queremos aproveitar o momento por não saber quando e se acontecerá outro”, completa o tecladista. Os últimos ingressos para o show ainda estão disponíveis no site da Eventim, com entradas a partir de 180 reais.